Por Adriane Garcia
Há
dias estou para falar do zine intitulado Impublicáveis
da poeta Adri Aleixo.
Tendo a Lady Godiva, de Ethel Mortlock, na capa, Impublicáveis é uma coletânea de onze poemas,
onde se pode notar, inequivocamente, o quanto a poesia de Adri Aleixo tem
crescido em tratamento dos temas e forma. O trabalho reunido no zine pode ser lido rapidamente,
mas logo em seguida, instiga o leitor à releitura, e foi o que eu fiz.
Com
vagar, saboreando o sentido e os versos, Impublicáveis
se torna ainda melhor numa manhã ou tarde silenciosa. Talvez, tendo ao lado uma
xícara de chá, um aquário com pequenos peixes, uma disposição amistosa para o
silêncio.
Esta
a descoberta: onze poemas convidando para a introspecção, para a contemplação,
para o toque daquilo que só pode ser devidamente sorvido se tiver ultrapassado
o barulho e a multidão, o apego e a palavra excessiva. Não por acaso, um dos
poemas evoca o gato de Orides Fontela, gato que, sabemos, é impossível de ser
capturado. Noutro, Lady Godiva descobre, sabiamente, que é preciso despir-se de
tudo, inclusive do cavalo; noutro, ainda, o amor que só pode ser percebido nas
frases que não foram ditas.
Em
Impublicáveis, assim como na lição
ouvida por Godiva, menos é mais. E é mesmo. A poeta busca o sentido profundo
do que observa e vivencia, com o pressuposto da verdade socrática de só saber que nada sabe: “Eu
sei de muitas coisas/todas elas muito rasas/uma canção/alguma ou outra poesia”.
Confessando não saber, Adri Aleixo busca o cerne das coisas, naquilo que é
terreno da contemplação, do mistério, pois quem não sabe que a poesia se
aproxima muito menos do conhecimento do que da sabedoria?
Deixo
vocês com três poemas desta delícia. E o desejo profundo de que o silêncio
habite mais vezes a nossa saúde e o nosso coração.
Cumeeira
Para
cessar
o
peso
do
dia
poderás
ir ao
telhado
lá,
há um
precipitar
de chuva e pulo
uma
vista para o descampado
é
lá onde secam as palavras
e
coragem é uma espécie de ruindade
lá
duas águas se encontram
Bilhete
Deslizo
pelas paredes do quarto
e
acendo as luzes da sala
a
casa dorme
pedaços
fragmentos coisas
há
um azul se refazendo no teto
astros
asteróides galáxias
mandam
dizer
que
dispensam explicações
Lady Godiva
Gostava
de seguir tendências
leu
certa vez em uma vitrine
:
menos é mais!
despiu-se
do cavalo
***
Impublicáveis
Adri Aleixo
2018
Publicação
independente da autora
Disponível com a
autora
Contato por e-mail: adrianalinguagens01@gmail.com
Contato por e-mail: adrianalinguagens01@gmail.com
gostei dos versos da adri - gostei da análise da adriane - ô povo lindo!
ResponderExcluirÔ, Líria, que saudade!
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