Por
Adriane Garcia
Edição
muito bonita e ilustrada, feita pela Companhia das Letras, O mez da grippe e
outros livros reúne cinco obras de Valêncio Xavier: O mez da
grippe, Maciste no inferno, O minotauro, O mistério da
prostituta japonesa & Mimi-Nashi-Oishi e 13 mistérios + O mistério
da porta aberta.
O livro,
no todo, revela a inventividade do escritor Valêncio Xavier e sua linguagem
de experimentação. O destaque é para o livro O mez da grippe, em que o autor
escreve uma novela com diversas vozes discursivas, a partir da abordagem histórica,
sobre a ocorrência da gripe espanhola no Brasil, no ano de 1918, mais
especificamente na cidade de Curitiba. De forma genial, Valêncio Xavier
junta recortes de jornais, notícias, fotografias, depoimentos de sobreviventes,
anúncios publicitários da época para compor uma história de tragédia na saúde
pública, ao mesmo tempo em que os personagens caminham para uma narrativa que
envolve loucura e crime, realidade e fantasia.
O livro
também assume um viés de denúncia quanto ao papel das autoridades de Estado nos
momentos de pandemia, registra alguns fatos do fim da Primeira Guerra Mundial,
além de recuperar o comportamento da grande imprensa, resgatando um passado que
se quis esquecido; aliás, essa preocupação com o resgate do passado e com a
cultura de massa em tempos idos é uma recorrência na obra do autor, podendo ser
notada para além de O mez da grippe.
Valêncio
Xavier é um exemplo daqueles escritores que experimentam a liberdade
de criar, alargando o terreno do possível na literatura. Sua escrita é híbrida,
desfazendo fronteiras entre gêneros literários e se misturando com as artes
plásticas, a diagramação assumindo papel fundamental para compor aquilo que
conta; sendo literatura que se utiliza de prosa e poesia, grafic novel e
colagem, aproximando-se imageticamente da fotografia e do cinema (neste
sentido, Maciste no inferno é um primor), enquanto entre o tecido de ilustrações
utiliza-se de micronarrativas e fragmentação. Nas mãos de Valêncio Xavier, o
antigo se torna novo. Sua escrita é lúdica e chama o leitor para montar um
quebra-cabeças, descobrir e decifrar. Não raro, os jogos de Valêncio Xavier
não têm solução – e o jogo era exatamente esse.
***
O mez da
grippe e outros livros
Valêncio
Xavier
Cia das
Letras
1998
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