Por Adriane Garcia
Era
uma sexta, à tarde. Férias, em Recife, em excelente companhia. A
física quântica atestaria minha atração às coisas boas, neste
dia. Justamente assim, Tadeu Sarmento me passou um livro de sua
estante: AS AVENTURAS DE CAVALOdADA em + REALIDADES Q CANAIS DE TV (editora Pitomba, 2013).
E então comecei a lê-lo. Comecei a vê-lo:
a capa amarela, de
ilustração criativa e bonita, o rato na imagem da TV, assustando
como se fosse fora dela; a mulher em pé, em cima da TV, com um medo
real do rato. Uma capa que já diz tanto. Dentro, o texto brincando
com a forma, com os gêneros, de maneira que se indefine se lemos um
conjunto de poemas, crônicas, minicontos. Fato é que em +
realidades q canais de TV pensamos, rimos por vezes,
surpreendemo-nos, iluminamo-nos com ideias; mas o que percebi ainda
mais importante: somos convidados a olhar a cena urbana com outro
olhar. Somos convidados a incluir a cena urbana na atividade da
reflexão política e estética, durante toda a leitura. E de maneira
densa, mas de maneira leve.
"aqueles
q mijam no
espaço
urbano ñ o fazem
p/
demarcar território (e
sem
dúvida ñ o fazem p/
"depredar")
mas sim indicar
às
autoridades (q ñ andam a
pé)
os locais + estratégicos
p/
a instalação de banheiros
públicos"
"o
cheiro do mijo em becos
ruas,
cantos de praça,
precipícios
é a gestão
participativa
dos anônimos
q
os governos teimam em
ignorar"
Obviamente
falar de um livro nunca é ler o livro, ainda mais quando o projeto
gráfico (de Tazio Zambi) é parte tão integrante da obra. E é o que acontece neste
livro de Reuben da Rocha. As ilustrações, pin ups reinventadas, mulheres de outros séculos (?), a própria diagramação,
tudo compõe o livro de maneira coesa e completa.
Seu
trabalho com a linguagem, utilizando-se de sinais gráficos
matemáticos, de internet, de variação de caixa alta e baixa
consegue estar atualizado, mas sem forçar, flui natural e chegamos a
pensar que não poderia mesmo, neste livro, ser de outra forma.
Criativo, lúcido e louco, mas sem aquela pretensão artificializada
tão comum de quem ainda quer inventar a roda. Reuben é sincero. A
sua linguagem faz parte desta sinceridade. É seu olhar que nos
convida. É um excelente convite.
Em + Realidades q canais de TV, há temas como os pichadores, a maconha, os moradores de rua, os
proscritos, os skatistas, a adolescência, as ruas, o modelo
norte-americano de consumo, a televisão, a política, o amor, as
mulheres, a arte e os artistas, a própria linguagem escrita e seus
suportes.
“adolescentes
ñ “sentam
direito”
pq entendem q ñ
são
eles q devem se adaptar
(mas
sim os assentos q têm
1função
p/ dar conta) além
do
+ se é p/ ficar parado a
tarde
inteira no msm lugar:
p
q ñ deitados?”
“A
ÚNICA COISA PIOR Q 1GOVERNO
É
1GOVERNISTA. O POLÍTICO
CONSERVADOR
PODERIA SE INSPIRAR
NO
ARTISTA CONSERVADOR E AO
MENOS
SE TORNAR INOFENSIVO.
LEGALIZE
O SOL ANTES
DAS
SEIS”
A
minha alegria tripla? 1. Conhecer o livro. 2. Ler o livro. 3. Ter que reler o
livro pra escrever sobre ele.
Obrigada,
Reuben.
P.S.: após a leitura desta minha impressão, Tadeu Sarmento completa: " Reuben da Rocha (o herdeiro direto mais jovem de Valêncio Xavier e Marcel Duchamp): escritor, poeta, compositor, tradutor e editor de revistas e sites de terrorismo cultural, cujo único intuito é instalar a gráfica na borracharia para dinamitar todos os signos da “alta cultura” a partir dos detritos que a civilização descarta depois que o preço os abandona (com o abraço fraterno de Walter Benjamin)."
P.S.: após a leitura desta minha impressão, Tadeu Sarmento completa: " Reuben da Rocha (o herdeiro direto mais jovem de Valêncio Xavier e Marcel Duchamp): escritor, poeta, compositor, tradutor e editor de revistas e sites de terrorismo cultural, cujo único intuito é instalar a gráfica na borracharia para dinamitar todos os signos da “alta cultura” a partir dos detritos que a civilização descarta depois que o preço os abandona (com o abraço fraterno de Walter Benjamin)."
Agora
sim.
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