Por
Adriane Garcia
Mais
do que nunca, tempo oportuno para ler Os sertões, o
livro-romance-reportagem, de Euclides da Cunha.
Considerado
obra do Pré-Modernismo da literatura brasileira, Os sertões
conta a história da Guerra de Canudos, que ficaria melhor
denominada Massacre de Canudos, ocorrido em 1897, dada a desproporção de forças e a ordem de destruir o povoado, com mulheres, crianças e velhos inclusos. Vale lembrar que,
neste mesmo ano, a República construía a primeira
cidade planejada do Brasil, Belo Horizonte, símbolo do futuro,
mesmo que para isso tenha promovido a exclusão e o êxodo
de todos os seus antigos moradores.
Interessante
notar que, ao mesmo tempo que Euclides da Cunha atribui o atraso
material e espiritual à miscigenação, o
enfraquecimento da raça; também atribui à
miséria material o fanatismo dos povos. Nisso, critica a
República e a prática da injustiça social. Ao
mesmo tempo que acompanha o exército e polícias
movimentando-se em batalhões de várias partes do país
para o massacre, também mostra a resistência, a coragem
e o ardil do sertanejo na defesa de seu território e de sua vida. Foram necessárias quatro expedições, somando cerca de 12.000 soldados para acabar com a comunidade de 5.000 casas, situada no interior da Bahia. Apesar de possuir jagunços armados precariamente, Canudos contava com um elemento naturalmente conhecido a seu favor: a caatinga.
O
livro, além de dar um retrato pormenorizado da geografia do
sertão, traz matéria para a antropologia, a sociologia
e a política brasileiras. Determinista, eugenista e
cientificista, a visão de Euclides da Cunha marca a narrativa
com o racismo do século XIX, de cuja continuidade ainda não
nos livramos.
A
considerar que o Brasil continua a figurar como genocida de sua
população negra e possuindo uma das polícias que
mais matam no mundo, Os sertões é também a
lembrança de que pouco se mudou, na prática, a atitude
da República antes e depois da Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
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