Por Adriane Garcia
Romance inesquecível do
escritor franco argelino Albert
Camus, O
estrangeiro é
narrado em primeira pessoa, pelo protagonista, o jovem Meursault. A
história começa com a chegada de um telegrama, avisando-lhe da
morte da mãe, que mora em um asilo, noutra cidade. Deste fato em
diante, a reação do protagonista a essa notícia, seus pensamentos
a respeito começam a causar estranheza no leitor, pois que Meursault
não se comporta segundo os ditames da sociedade.
Meursault não tem sentimentos
extremos, e o que se nos apresenta se parece mais com a indiferença;
porém, mesmo a acusação de indiferença não poderia ser de todo
verdadeira, pois Meursault sente de outra forma, manifesta-se segundo
essa forma de sentir e tem uma sensibilidade aguçada para os
elementos da natureza – os lugares são descritos como beleza
convidativa, como se o ser humano destoasse do idílico quando
simplesmente não vive essa natureza. Por exemplo, na cena em que
Meursault toma banho de mar com a namorada, tudo é tocado por luz e
leveza.
Mesmo quanto ao enterro da
mãe, ele vai ao asilo, vela a mãe, se faz presente no enterro, faz
o que tem que fazer, exceto fingir a emoção que não sente ou que
não se uniformiza com o protocolo. Se não se importasse com nada,
sincero como é, certamente não teria se dado ao trabalho de ir.
A primeira parte do livro
(dividido em três) mostra o cotidiano de Meursault. Os dias
seguintes à morte da mãe, a vida que continuava dentro da
“normalidade”, namorando, fazendo amigos, indo ao trabalho, ao
mar, aos passeios. Até que no segundo capítulo um trágico
incidente acontece; o que nos leva à terceira parte. O julgamento.
No julgamento, o leitor
percebe que todas as cenas e sentimentos que foram demonstrados no
primeiro capítulo tinham importância crucial para se localizar no
julgamento. Aqui, a reflexão sobre a condição humana, que já se
vinha fazendo, aparece com mais contundência. Meursault continua
escolhendo não mentir.
Expoente da corrente
filosófica do Existencialismo, Albert
Camus acreditava
que a condição humana era tão absurda que só cabia como reação
digna rebelar-se. É o que faz seu personagem. Meursault olha para a
realidade com distanciamento, rebela-se mudamente, com os seus “não
sei” e “tanto
faz”. A vida, bem
demonstra o exemplo de Meursault, não permite qualquer controle ou
sentido; abandonamos e somos abandonados; a própria natureza ao
nosso redor nos ignora.
Vale lembrar que O
estrangeiro é
escrito em uma época absolutamente sombria, durante a Segunda Guerra
Mundial e que o próprio Albert
Camus estava
estrangeiro em Paris; depois, voltando à Argélia.
A grande habilidade do autor
neste livro é dar a narrativa com tanta naturalidade que o absurdo
se amplia. Ao fim, o leitor fica intrigado com o personagem; talvez
porque ele tenha coragens que não temos, mas sentimentos que
reconhecemos muito bem.
***
O estrangeiro
Albert Camus
Tradução de Valerie Rumjanek
Romance
Ed. Record
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