quarta-feira, 31 de julho de 2019

O estrangeiro – de Albert Camus





Por Adriane Garcia


Romance inesquecível do escritor franco argelino Albert Camus, O estrangeiro é narrado em primeira pessoa, pelo protagonista, o jovem Meursault. A história começa com a chegada de um telegrama, avisando-lhe da morte da mãe, que mora em um asilo, noutra cidade. Deste fato em diante, a reação do protagonista a essa notícia, seus pensamentos a respeito começam a causar estranheza no leitor, pois que Meursault não se comporta segundo os ditames da sociedade.

Meursault não tem sentimentos extremos, e o que se nos apresenta se parece mais com a indiferença; porém, mesmo a acusação de indiferença não poderia ser de todo verdadeira, pois Meursault sente de outra forma, manifesta-se segundo essa forma de sentir e tem uma sensibilidade aguçada para os elementos da natureza – os lugares são descritos como beleza convidativa, como se o ser humano destoasse do idílico quando simplesmente não vive essa natureza. Por exemplo, na cena em que Meursault toma banho de mar com a namorada, tudo é tocado por luz e leveza.

Mesmo quanto ao enterro da mãe, ele vai ao asilo, vela a mãe, se faz presente no enterro, faz o que tem que fazer, exceto fingir a emoção que não sente ou que não se uniformiza com o protocolo. Se não se importasse com nada, sincero como é, certamente não teria se dado ao trabalho de ir.

A primeira parte do livro (dividido em três) mostra o cotidiano de Meursault. Os dias seguintes à morte da mãe, a vida que continuava dentro da “normalidade”, namorando, fazendo amigos, indo ao trabalho, ao mar, aos passeios. Até que no segundo capítulo um trágico incidente acontece; o que nos leva à terceira parte. O julgamento.

No julgamento, o leitor percebe que todas as cenas e sentimentos que foram demonstrados no primeiro capítulo tinham importância crucial para se localizar no julgamento. Aqui, a reflexão sobre a condição humana, que já se vinha fazendo, aparece com mais contundência. Meursault continua escolhendo não mentir.

Expoente da corrente filosófica do Existencialismo, Albert Camus acreditava que a condição humana era tão absurda que só cabia como reação digna rebelar-se. É o que faz seu personagem. Meursault olha para a realidade com distanciamento, rebela-se mudamente, com os seus “não sei” e “tanto faz”. A vida, bem demonstra o exemplo de Meursault, não permite qualquer controle ou sentido; abandonamos e somos abandonados; a própria natureza ao nosso redor nos ignora.

Vale lembrar que O estrangeiro é escrito em uma época absolutamente sombria, durante a Segunda Guerra Mundial e que o próprio Albert Camus estava estrangeiro em Paris; depois, voltando à Argélia.

A grande habilidade do autor neste livro é dar a narrativa com tanta naturalidade que o absurdo se amplia. Ao fim, o leitor fica intrigado com o personagem; talvez porque ele tenha coragens que não temos, mas sentimentos que reconhecemos muito bem.

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O estrangeiro
Albert Camus
Tradução de Valerie Rumjanek
Romance
Ed. Record



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