Achará,
à primeira vista, a leitora, o leitor, que lerá um livro sobre a viagem de duas
mulheres, companheiras, a Madri. Que esta
viagem poderá ser também outras que o livro conta, ao Rio de Janeiro,
Teresópolis, ou à França, Paris. Poderá achar, ainda, que será encontrar Buenos
Aires, Roma e tantos outros lugares aos quais a vida de Isabel, a narradora, e
Virgínia nos levam. Será somente à primeira vista.
Em
Um dia toparei comigo, de Paula Fábrio, a viagem que realmente faremos junto de
sua protagonista será ao labirinto, forma e tema se encontrando, pois que o labirinto
é tanto a falta de linearidade em que a narrativa se desenvolve quanto o lugar
sem mapa, sem paradeiro, sem avisos prévios em que a vida nos lança, logo que
nascemos.
Nas
palavras de Isabel, Virgínia é a pessoa com quem compartilha a fobia de viver.
A narradora, tendo passado recentemente pela morte do pai, acometido pelo
câncer, viaja com a companheira – que vive apenas um mês por ano, o mês de
férias – e encontra, na Espanha, outros amigos. O que parecia ser uma pausa do
assunto mal acabado, a morte, deixado no país de origem, retorna, pois o tio de
Luís, seu Ramires, também está morrendo. Desencadeada pela beleza e o
alumbramento das novas paisagens, a memória aciona as lembranças dos fatos.
Passado e presente se cruzam, todo o tempo. Perceber esses personagens,
justamente no vai e vem da lembrança de Isabel, é ir compondo o livro
juntamente com a autora. Ela vai dando à leitora, ao leitor, a chance desse
exercício de imaginação: aos poucos, tudo fará sentido, porque nada tem.
É
da vida sem sentido, é de dar sentido à vida, é de tentar encontrar as saídas
possíveis para nascer e morrer, entre um ato e outro, que o livro de Paula
Fábrio nos fala. Fala de luta, a diária – que não parece um grande feito, mas é
– e resignação. Os personagens de Um dia toparei comigo são tão frágeis quanto
eu e você, guardam fracassos mesmo já tendo estado “no maior do auge”. O tom é
de uma melancolia profunda e bela, que a obra de arte alcança. Sem piedade
alguma, a autora revela nosso sentimento tão constante de estarmos perdidos,
estrangeiros em qualquer terra e, principalmente, estrangeiros dentro de nós
mesmos. O Minotauro deste labirinto é o espelho.
No
fim da leitura, eu que, por demais, já gostava do título, passei a gostar mais
ainda. “Um dia toparei comigo” é uma esperança. E no livro de Paula Fábrio, com
seu fio de Ariadne nos conduzindo, é uma realização.
“Não havia o que fazer
nas próximas horas, dias, e também e também não importavam os ponteiros do
relógio. Eles marcam a duração da alegria e só. Até mesmo o túnel do tempo não
seria vantagem, caso não saibamos tim-tim por tim-tim o que fazer da vida.
Presumo, toda viagem é um pouco à deriva e, enquanto não nos conformamos em
fruí-la sem nos debater, não poderemos nem ao menos contar uma boa história aos
próximos da fila.
Quando não há o que
fazer, caminha-se.”
***
Romance/ Um dia toparei comigo/Paula Fábrio/Editora Foz, 2015
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