quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Um vídeopoema de Estive no fim do mundo e me lembrei de você

https://www.youtube.com/watch?v=QLp06R8O9SU


ANTROPOCENO

 

Está parecendo que eu odeio a humanidade

Desde que vi as morsas caindo de montanhas

Em que nunca deveriam ter subido

As morsas quicando

Uma, duas, três vezes e caindo estateladas

No meio da multidão de morsas

 

Na costa da Rússia, eu que nunca estive lá

Chorei como quem passava a amar somente os bichos

E as plantas que cultivo no meu apartamento

Sob um pedacinho de sol

Que os arquitetos deixaram por compaixão

Ou por esquecimento

 

Soube então que faltavam geleiras às morsas

E que elas agora se viravam nas pedras

Amontoadas, que algumas subiam as montanhas e

O resultado já disse

Elas caem e fica parecendo que eu

Odeio a humanidade

 

Como se eu não soubesse que gente

Também é bicho

Como se eu não entendesse que é preciso amar

A minha própria espécie

Fica parecendo que eu não compreendo

Que nós caímos quando a morsa cai.

.


Estive no fim do mundo e me lembrei de você

Adriane Garcia

Poesia

Coleção Biblioteca Madrinha Lua

Ed. Peirópolis

2021


Vídeo de Amanda Ribeiro



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