domingo, 18 de fevereiro de 2018

Impublicáveis - zine de Adri Aleixo





Por Adriane Garcia


Há dias estou para falar do zine intitulado Impublicáveis da poeta Adri Aleixo.

Tendo a Lady Godiva, de Ethel Mortlock, na capa, Impublicáveis é uma coletânea de onze poemas, onde se pode notar, inequivocamente, o quanto a poesia de Adri Aleixo tem crescido em tratamento dos temas e forma. O trabalho reunido no zine pode ser lido rapidamente, mas logo em seguida, instiga o leitor à releitura, e foi o que eu fiz.

Com vagar, saboreando o sentido e os versos, Impublicáveis se torna ainda melhor numa manhã ou tarde silenciosa. Talvez, tendo ao lado uma xícara de chá, um aquário com pequenos peixes, uma disposição amistosa para o silêncio.

Esta a descoberta: onze poemas convidando para a introspecção, para a contemplação, para o toque daquilo que só pode ser devidamente sorvido se tiver ultrapassado o barulho e a multidão, o apego e a palavra excessiva. Não por acaso, um dos poemas evoca o gato de Orides Fontela, gato que, sabemos, é impossível de ser capturado. Noutro, Lady Godiva descobre, sabiamente, que é preciso despir-se de tudo, inclusive do cavalo; noutro, ainda, o amor que só pode ser percebido nas frases que não foram ditas.

Em Impublicáveis, assim como na lição ouvida por Godiva, menos é mais. E é mesmo. A poeta busca o sentido profundo do que observa e vivencia, com o pressuposto da verdade socrática de só saber que nada sabe: “Eu sei de muitas coisas/todas elas muito rasas/uma canção/alguma ou outra poesia”. Confessando não saber, Adri Aleixo busca o cerne das coisas, naquilo que é terreno da contemplação, do mistério, pois quem não sabe que a poesia se aproxima muito menos do conhecimento do que da sabedoria?

Deixo vocês com três poemas desta delícia. E o desejo profundo de que o silêncio habite mais vezes a nossa saúde e o nosso coração.

Cumeeira

Para cessar
o peso
do dia
poderás ir ao
telhado
lá, há um
precipitar de chuva e pulo
uma vista para o descampado
é lá onde secam as palavras
e coragem é uma espécie de ruindade
lá duas águas se encontram

Bilhete

Deslizo pelas paredes do quarto
e acendo as luzes da sala
a casa dorme
pedaços fragmentos coisas

há um azul se refazendo no teto
astros asteróides galáxias
mandam dizer
que dispensam explicações

Lady Godiva

Gostava de seguir tendências
leu certa vez em uma vitrine
: menos é mais!
despiu-se do cavalo


***
Impublicáveis
Adri Aleixo
2018
Publicação independente da autora
Disponível com a autora
Contato por e-mail: adrianalinguagens01@gmail.com


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