Ainda
nem tinha terminado de ler O indizível sentido do amor (ed. Patuá), romance de
Rosângela Vieira Rocha e já estava com vontade de falar sobre ele.
O
livro conta uma história que nos inquieta pelo que tem de comovente, de
histórico, de relato daquelas situações particulares que se abrem para o
universal, pois a leitora/o leitor reconhece o cenário, o contexto, os
sentimentos e passa a caminhar junto com Nita e seu marido morto, prisioneiro
político torturado pela ditadura militar instalada no Brasil em 1964.
Como
sugerido no título, o romance de Rosângela Vieira Rocha é uma história de amor,
mas não o amor edulcorado ou romântico que muito mais se assemelha à paixão
ou ao fingimento, o amor que nos relata a autora, por meio de sua protagonista,
é o amor real entre duas pessoas, com personalidades muito próprias, que
precisam lidar com a violência do passado, o silêncio e a sobrevivência diária.
Em
O indizível sentido do amor, Rosângela, com muita competência, faz com que nos
deparemos com os horrores de uma ditadura, leva-nos ao presídio da Ilha Grande,
transporta-nos até os dias de hoje, quando tantos direitos conquistados vão
sendo perdidos, desperta nossa empatia para um personagem que tem sua vida redirecionada
e, de certa forma, destruída, por atentados à dignidade humana que nenhum
Estado jamais conseguiria indenizar.
Um livro bonito e envolvente em que, em
meio à dureza de uma história que envolve o horror, a doença e a morte, a
autora mostra a supremacia do amor, esse que é o sentimento mais subversivo do
mundo.
“Onde estará o meu filho? Por que não dá
notícias? Há meses não sabemos nada sobre ele, apenas que deixou a
universidade. Eu quero achar o meu filho de qualquer maneira. Estou cansada de
esperar notícias, exausta de tanto ouvir mentiras, fofocas, saber de falsos
indícios, seguir pistas mentirosas. Só quero isso, encontrar o meu filho. É pedir
demais? Aquele ingrato sabe que seu pai e eu estamos preocupados e nada de dar
um telefonema, mandar um recado. O que terá acontecido? A cada dia que passa
fico mais angustiada com todas essas histórias de prisões que temos escutado.
Será que está preso? Mas onde? Em que cidade? Em que cadeia?” (p.
122/123)
***
O
indizível sentido do amor
Rosângela
Vieira Rocha
Ed.
Patuá
2017
Difícil encontrar o livro em ebook. Queria ler
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