quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Os Sertões, de Euclides da Cunha




Por Adriane Garcia


Mais do que nunca, tempo oportuno para ler Os sertões, o livro-romance-reportagem, de Euclides da Cunha.

Considerado obra do Pré-Modernismo da literatura brasileira, Os sertões conta a história da Guerra de Canudos, que ficaria melhor denominada Massacre de Canudos, ocorrido em 1897, dada a desproporção de forças e a ordem de destruir o povoado, com mulheres, crianças e velhos inclusos. Vale lembrar que, neste mesmo ano, a República construía a primeira cidade planejada do Brasil, Belo Horizonte, símbolo do futuro, mesmo que para isso tenha promovido a exclusão e o êxodo de todos os seus antigos moradores.

Interessante notar que, ao mesmo tempo que Euclides da Cunha atribui o atraso material e espiritual à miscigenação, o enfraquecimento da raça; também atribui à miséria material o fanatismo dos povos. Nisso, critica a República e a prática da injustiça social. Ao mesmo tempo que acompanha o exército e polícias movimentando-se em batalhões de várias partes do país para o massacre, também mostra a resistência, a coragem e o ardil do sertanejo na defesa de seu território e de sua vida. Foram necessárias quatro expedições, somando cerca de 12.000 soldados para acabar com a comunidade de 5.000 casas, situada no interior da Bahia. Apesar de possuir jagunços armados precariamente, Canudos contava com um elemento naturalmente conhecido a seu favor: a caatinga.

O livro, além de dar um retrato pormenorizado da geografia do sertão, traz matéria para a antropologia, a sociologia e a política brasileiras. Determinista, eugenista e cientificista, a visão de Euclides da Cunha marca a narrativa com o racismo do século XIX, de cuja continuidade ainda não nos livramos.

A considerar que o Brasil continua a figurar como genocida de sua população negra e possuindo uma das polícias que mais matam no mundo, Os sertões é também a lembrança de que pouco se mudou, na prática, a atitude da República antes e depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

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