Novella, de Sérgio Fantini, editora Jovens Escribas, 2013.
Terminei
ontem, à noite, a leitura de Novella, de Sérgio Fantini. Terminei sem querer que o livro acabasse. Ou, terminei
pensando: “já acabou?”. Um professor de teatro, certa vez, disse-me que essa
sensação era uma das maneiras de identificar se um peça era boa: nas ruins a
gente fica se perguntando o contrário: “nossa! Será que falta muito para acabar?”
Pois
é. O autor mineiro, Sérgio Fantini, oferece-nos contos que remetem a uma
juventude onde os personagens estão vivendo sua cultura etária, envolvendo a
música, a curiosidade e o escape da angústia através das drogas, a busca, quase
sempre sofrível, do sexo, a presença constante da solidão, a procura do amor. E,
conjuntamente, contos cujos personagens são crianças, adultos e velhos, imersos
na frustração, na solidão e na mesma busca. Aliás, o amor, desejado e
frustrante, permeará praticamente todo o livro, num jogo hábil e criativo do
escritor.
E
foi esse jogo hábil que foi crescendo no livro, visto que é sem dúvida, um
livro que cresce. A organização dos títulos foi crucial para que continuássemos
lendo, com avidez. A forma literária, o trabalho de forma com que o autor se
esmerou, ia-nos mostrando, além das histórias por si, o gosto de quem quer descobrir
mais que elas. Talento. Levava-nos Fantini, a um ápice.
Novella,
ele explica, são histórias vividas sempre pelos mesmos personagens (como
acontece às novelas televisivas). Mas aqui, obviamente – pois estamos falando
de literatura – nada está pasteurizado, a complexidade da vida quase a nos
deixar sem fôlego, pois identificando-a nos personagens e situações lidas,
ficamos a nos perguntar sobre um modo para viver alguma plenitude. Humanizados,
os personagens de Fantini nos reforçam o compreender. E esse é um outro
critério (pessoal) que eu, como leitora, uso para identificar se um livro é
bom.
Num
determinado momento, em Dorinha, Sérgio Fantini constrói, em Novella, um conto
feliz e, de propósito, muito sutilmente, gera um incômodo no leitor. Ao fim, o
autor mesmo nos adverte com uma frase de Bráulio Tavares: “As histórias felizes
não nos satisfazem porque sabemos serem intrinsecamente falsas...”
Certamente,
para mim, ainda houve o deleite de passear por minha cidade, Belo Horizonte, de
reconhecer esse território/cenário e então, trazer ainda para mais perto,
alguns dos contos. Mas quase ao fim (ah! Como adoro os livros impiedosos!), as
suposições feitas a respeito de uma mulher, de uma relação amorosa, a partir de
Maria, sempre uma outra Maria e sempre a mesma; vários contos a deixar-nos
assim boquiabertos sem saber se ela é real ou imaginária, se elas são reais ou
imaginárias e saber que o próprio lirismo cresce a partir da incompletude dessa
relação, dessas... ah! Eu não queria mesmo que o livro acabasse.
Mas
Sérgio Fantini soube a medida exata para encerrar: o auge. E é com o gênero
supremo, a poesia, que finaliza.
O livro do Fantini é bom sobretudo pela linguagem. O Fantini escreve como um antiliterato. Literatura pau a pau com a vida. Mais o humor negro. Mais as inusitadas relações entre as personagens, algumas, puramente imaginárias mas... tão convincentes! Em geral é isso: a gente fala do livro do autor e a crítica é só um acidente. Neste caso, porém, há uma grande surpresa. A análise que Adriane faz é fantástica. E não me entusiasmou menos que o livro. Um raro caso em que o crítico não é um subproduto da obra criticada. Prova de que seu blog, Adriane, é dos mais interessantes de se visitar. Estás de parabéns mesmo. E a literatura é quem agradece. O leitor, finalmente, com um guia confiável.
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