Por Adriane Garcia
Livro obrigatório para estudos sobre patriarcado, feminismo e principalmente História das Mulheres, “A criação do patriarcado”, de Gerda Lerner , traduzido por Luiza Sellera, foi publicado no Brasil pela editora Cultrix.
Gerda
Lerner (1920-2013) foi historiadora e professora na Universidade de Wisconsin e representou
um papel fundamental no desenvolvimento do currículo de História da Mulher. O
livro é resultado da pesquisa, por décadas, que a autora fez de extensa bibliografia
e fontes primárias referentes à História Antiga, mais especialmente os
resultados da arqueologia e antropologia do período pré-histórico até a
consolidação dos Estados arcaicos. Muitos dos capítulos serão desenvolvidos por
meio de acurada análise sobre os códigos de leis, com destaque para o babilônico,
o assírio e o hebreu.
A criação
do patriarcado lança hipóteses e fala da importância de se voltar aos estudos e
criação de sistemas com o olhar de quem procura a história das mulheres. A autora
desenvolve capítulos sobre as origens da opressão sobre a mulher, estudos sobre
a esposa como substituta, a mulher escrava, os papéis da esposa e da concubina,
o significado do velamento da mulher, a importância e o destronamento das
deusas, a ordem dos patriarcas, a aliança no Antigo Testamento e a importância
de se compreender que aquele que cria simbologia exerce grande poder. Há uma
atenção especial de Gerda Lerner para mostrar que foi negado às mulheres o
direito à simbologia, à criação de sistemas, pois a mulher foi excluída dos
lugares de escrita, criação e intervenção política pelos meios oficiais.
Porém,
ainda assim, as mulheres sempre estiveram presentes – nem sempre objetificadas
como mercadoria – constituindo metade da humanidade, participando e fazendo com
seus contemporâneos de todas as eras um caminho. É para esse caminho que Gerda
Lerner alerta. Seu livro é um chamado às mulheres para que encontrem e conheçam
sua História e como sujeitos históricos fundamentem uma outra ordem.
“Quando
as condições históricas são adequadas, e as mulheres têm tanto espaço social quanto
a experiência social para embasar seu novo entendimento, a consciência feminista
se desenvolve. Historicamente, isso ocorre em estágios distintos: (1) a
consciência da injustiça; (2) o desenvolvimento da noção de irmandade; (3) a
definição autônoma pelas mulheres de suas metas e estratégias para mudar a
própria condição; e (4) o desenvolvimento de uma visão alternativa de futuro.
O
reconhecimento de uma injustiça se torna político quando as mulheres percebem
que essa injustiça é compartilhada com outras. Para remediar essa injustiça
coletiva, as mulheres se organizam na vida política, econômica e social. Os
movimentos que organizam inevitavelmente encontram resistência, o que as força
a contar com os próprios recursos e força. No processo, desenvolvem um senso de
irmandade. Esse processo também resulta em novas formas de cultura da mulher,
impostas às mulheres pela resistência que elas encontram, tais como
instituições ou modelos de vida segregados por sexo ou separatistas. Com base
em tais experiências, as mulheres começam a definir as próprias demandas e a
desenvolver teorias. Em determinado nível, saem da androcentricidade na qual
foram educadas e passam a colocar as mulheres no centro. Na área acadêmica, os
Estudos das Mulheres buscam encontrar uma nova estrutura de interpretação
interior à cultura histórica das mulheres, resultando em sua emancipação.
É apenas
por meio da descoberta e do reconhecimento de suas raízes, seu passado, sua
história, que as mulheres, assim como outros grupos, tornam-se capazes de
projetar um futuro alternativo. A nova visão das mulheres exige que elas sejam
colocadas no centro, não apenas de eventos, onde sempre estivemos, mas do
trabalho universal de reflexão. As mulheres estão exigindo, como fizeram os
homens durante o Renascimento, o direito de definir, o direito de decidir.” (p.
294)
***
A criação do patriarcado:
História da opressão das mulheres pelos homens
Gerda Lerner
História
Cultrix
2019
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