"O
anonimato é um tipo de liberdade que quebra em pedaços a aura de
promessas que, às vezes, se forma em torno das pessoas".
Ontem, finalmente, consegui começar a ler ASSOCIAÇÃO ROBERT WALSER PARA SÓSIAS ANÔNIMOS, do escritor Tadeu Sarmento. Uma escrita única, às vezes permeada por um humor refinado que desvela o enigma e a fragilidade da existência, qualquer existência, mesmo a mais pomposa.
Eu sempre quis muito que alguém escrevesse sobre a lógica dos grupos anônimos de ajuda mútua, porque eles têm algo de muito engraçado e de muito embrenhado nas nossas convenções sociais (confesso, eu mesma já fui frequentadora de um desses). "Clube da luta", o filme, de certa forma conseguiu tratar disso criando um antigrupo. Agora, um grupo anônimo para sósias que perderam a identidade e se fundem no duplo é uma sacada genial. Porque é um grupo anônimo que, caso se preste a servir a algum fim (Hussein, o coordenador da Associação, disse que não, não se presta), é justamente romper o anonimato e reconstituir a identidade dos sósias. Mas, até onde, parece-me que é não disso, ou não é só disso que se trata.
Um Imanuel saído de uma colônia kantiana, um homem que se torna sósia de um autor por se encantar por uma moça que era leitora assídua desse escritor, Yeshua, que também podia ser INRI Cristo, Hussein... E nessa galeria de sósias uma narrativa que escancara a precariedade de seja lá quem for, seja lá o que for, num processo em que as individualidades são, não estilhaçadas, mas simples e completamente desprezadas. "Como aquele conquistador que, ao pisar pela primeira vez no solo de Cartago tropeçou e, sem perder a chance nem a pose, abriu os braços o máximo que pôde e caiu exclamando: esta terra me pertencerá. Existe algo muito singelo nesta cena contada por Walter Benjamin que, aliás, é sósia de Charles Chaplin".
Ontem, finalmente, consegui começar a ler ASSOCIAÇÃO ROBERT WALSER PARA SÓSIAS ANÔNIMOS, do escritor Tadeu Sarmento. Uma escrita única, às vezes permeada por um humor refinado que desvela o enigma e a fragilidade da existência, qualquer existência, mesmo a mais pomposa.
Eu sempre quis muito que alguém escrevesse sobre a lógica dos grupos anônimos de ajuda mútua, porque eles têm algo de muito engraçado e de muito embrenhado nas nossas convenções sociais (confesso, eu mesma já fui frequentadora de um desses). "Clube da luta", o filme, de certa forma conseguiu tratar disso criando um antigrupo. Agora, um grupo anônimo para sósias que perderam a identidade e se fundem no duplo é uma sacada genial. Porque é um grupo anônimo que, caso se preste a servir a algum fim (Hussein, o coordenador da Associação, disse que não, não se presta), é justamente romper o anonimato e reconstituir a identidade dos sósias. Mas, até onde, parece-me que é não disso, ou não é só disso que se trata.
Um Imanuel saído de uma colônia kantiana, um homem que se torna sósia de um autor por se encantar por uma moça que era leitora assídua desse escritor, Yeshua, que também podia ser INRI Cristo, Hussein... E nessa galeria de sósias uma narrativa que escancara a precariedade de seja lá quem for, seja lá o que for, num processo em que as individualidades são, não estilhaçadas, mas simples e completamente desprezadas. "Como aquele conquistador que, ao pisar pela primeira vez no solo de Cartago tropeçou e, sem perder a chance nem a pose, abriu os braços o máximo que pôde e caiu exclamando: esta terra me pertencerá. Existe algo muito singelo nesta cena contada por Walter Benjamin que, aliás, é sósia de Charles Chaplin".
Betzaida Mata é escritora.
Associação Robert Walser para Sósias Anônimos
Tadeu Sarmento
Editora Cepe - Prêmio Pernambuco de Literatura
2015
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